VILA BALZAC (Lisboa)
A Vila Balsac, ficava algures na Graça, em Lisboa, e é o retiro amoroso de João da Ega.
O nome escolhido leva-nos a duas características fundamentais do carácter da personagem: a tendência de Ega para a criação literária, geralmente adiada, mas sempre entusiasticamente planeada, e a sua personalidade contraditória, porque, escolhendo como “seu padroeiro” um escritor realista, Ega acaba agindo de acordo com o Romantismo.
Nesta casa, destacam-se o quarto e a sala.
Ega passa grande parte do seu tempo no quarto. Este tem cor vermelha relacionada com a vida e a morte; e um espelho que enfatiza o carácter narcisista e ocioso de Ega.
Na sala não existe qualquer tipo de decoração, é uma espécie de espaço de um “intelectual”, o que faz a oposição entre as ideias que manifesta e aquilo que é, uma vez que a sua sensualidade sobrepõe-se à sua faceta intelectual.
“Não havia um quadro, uma flor, um ornato, um livro — apenas sobre a jardineira uma estatueta de Napoleão I, de pé (…)”
“E quis imediatamente mostrar a Carlos o seu quarto de cama; aí reinava um cretone de ramagens alvadias, sobre fundo vermelho; e o leito enchia, esmagava tudo. Parecia ser o motivo, o centro da «Vila Balzac»; e nele se esgotara a imaginação artística do Ega. Era de madeira, baixo como um divã, com a barra alta, um rodapé de renda, e de ambos os lados um luxo de tapetes de felpo escarlate; um largo cortinado de seda da Índia avermelhada envolvia-o num aparato de tabernáculo; e dentro, à cabeceira, como num lupanar, reluzia um espelho.”
“Na sala de jantar, quase nua, caiada de amarelo, um armário de pinho envidraçado abrigava melancolicamente um serviço barato de louça nova; e do fecho da janela pendia um vestuário vermelho, que parecia roupão de mulher.” - Os Maias, cap. VI