Roteiro Geográfico d’ Os Maias, de Eça de Queirós

[projeto DAC das turmas 4B e 4C do 11º ano]

Eça de Queirós viveu e escreveu num mundo que conheceu bem e a cujas transformações assistiu. Mas, ao compor os seus textos (e, em particular, o romance Os Maias), o romancista procedeu a uma representação dos espaços, ou seja, usou recursos de linguagem e convenções literárias que dão do mundo e dos seus elementos de contexto uma imagem singular.

Na verdade, o visualismo descritivo e a plasticidade da narrativa é tão rica que podemos facilmente sentirmo-nos a viajar pelos muitos espaços (físicos, sociais e psicológicos) onde se desenrolam os hilariantes episódios da vida romântica.

Lisboa é o espaço central da geografia queirosiana de Os Maias, mas também viajamos até Santa Olávia (em Resende, junto ao Rio Douro), para acompanharmos a educação de Carlos e do seu oposto, o Eusebiozinho, até aos Olivais, à Toca, onde Carlos e Mª Eduarda namoram, ou até Sintra, onde Carlos procura desesperadamente a «deusa» por quem se apaixonou.

Lisboa

“Lisboa é o espaço que espelha a globalidade do país”

— Os Maias, cap. XVIII

Os Maias, um romance publicado no final do século XIX (1888), apresenta-nos a representação realista de espaços físicos e sociais, ou seja, de espaços interiores e exteriores, onde desfilam as personagens que possibilitam a crítica à sociedade portuguesa oitocentista, incidindo em costumes e comportamentos incorretos, desde a prática do adultério à corrupção do jornalismo ou à imitação desadequada de hábitos estrangeiros.



N`Os Maias, Lisboa é um espaço caracterizado pela degradação moral, onde os portugueses exibem a sua ociosidade crónica. É, pois, um microespaço do macroespaço nacional, o símbolo da decadência nacional, e está ao serviço da crónica de costumes, que se concretiza ao nível do plano do subtítulo - «Episódios da Vida Romântica» - um fresco caricatural que satiriza o país que somos.

O país está todo entre a Arcada e S. Bento!

— Os Maias, cap. VI


Eça mostra-nos um retrato da Lisboa da sua época, símbolo da decadência nacional, caracterizada pela degradação moral e pela ociosidade crónica. As personagens que nela se movimentam são os seus contemporâneos.

O protagonista da intriga principal, Carlos da Maia, mora na Rua das Janelas Verdes, caminha com frequência até ao Rossio (embora, por vezes, vá a cavalo ou de carruagem). Algumas das lojas citadas no livro ainda existem – a Casa Havaneza, no Chiado, por exemplo. É possível seguir os diferentes percursos de Carlos ou do Ega pelas ruas da Baixa lisboeta, ainda que algumas tenham mudado de nome.

No final do livro, quando Carlos volta a Lisboa dez anos depois da sua «fuga», após a revelação da sua relação incestuosa e a consequente morte do seu avô, somos levados a ver as novidades – a Avenida da Liberdade, que substituiu o Passeio Público, e que é descrita como uma coisa nova, e feia pela sua novidade, exatamente como nos anos 70 se falava das casas de emigrante.


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