CHIADO

Pode São Bento ter-se convertido no símbolo da Política; o Terreiro do Paço no símbolo da Burocracia; a Rua dos Capelistas no símbolo da Finança; o Chiado alcançou o privilégio de os superar a todos, porque se converteu no símbolo do Bom-Tom.

Foram descendo o Chiado.”
- Os Maias (cap. XVIII)

Passando a pontificar na Literatura e na moda, consequentemente os homens de letras passaram a escrever para o Chiado, os janotas a apurar-se para o Chiado, as Senhoras a vestir-se para o Chiado. Mais do que uma rua, ainda que das mais afortunadas de Lisboa, o Chiado tornou-se uma verdadeira instituição nacional quase que um autêntico Estado dentro do Estado, com o seu Governo, o seu Parlamento, a sua Academia, a sua Catedral. Eça de Queiroz não hesitou mesmo em afirmar: “o que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, mundanos decide no Chiado que Portugal seja - é o que Portugal é.

In https://lisboadeantigamente.blogspot.com/2021/03/da-praca-de-luis-de-camoes-ao-chiado.html, 09-06-2016
(consult. a 30-04-2023, com supressões)


O Chiado simboliza o Portugal do parlamentarismo, do provincianismo afrancesado e da decadência. É um local de constante passagem das personagens.

Carlos Reis, Educação Literária – Leituras Orientadas, Os MaiasEça de Queirós, Porto, Porto Editora,  p.35

O imobilismo de Lisboa surge simbolicamente associado aos «polidores de pavimento», sujeitos inúteis, que se comportam como parasitas sociais, «pasmaceando» pelas ruas.

Foram descendo o Chiado. Do outro lado os toldos das lojas estendiam no chão uma sombra forte e dentada. E Carlos reconhecia, encostados às mesmas portas, sujeitos que lá deixara havia dez anos, já assim encostados, já assim melancólicos. Tinham rugas, tinham brancas. Mas lá estacionavam ainda, apagados e murchos, rente das mesmas ombreiras, com colarinhos à moda. Depois, diante da livraria Bertrand, Ega, rindo, tocou no braço de Carlos:
- Olha quem ali está, à porta do Baltresqui!
Era o Dâmaso. O Dâmaso, barrigudo, nédio, mais pesado, de flor ao peito, mamando um grande charuto, e pasmaceando, com o ar regaladamente embrutecido dum ruminante farto e feliz."

Os Maias, cap. XVIII, pg. 697

Mensagens populares deste blogue