CASA DOS CASTRO GOMES (Rª de S. Francisco)
No prédio ao lado do Grémio Literário “habitava Maria Eduarda, a maior criação romanesca feminina do século XIX português.”. No mesmo prédio, morava também o maestro Cruges.
A casa de Maria Eduarda ficava na rua de São Francisco e era propriedade da mãe de Cruges. Maria vivia no primeiro andar, alugado a ela e a Castro Gomes.
É a partir dos espaços onde Maria Eduarda esteve, nomeadamente nesta casa, que Carlos vai tentando adivinhar a personalidade que a caracteriza.
Na primeira vez que Carlos vai à casa de Maria, quando da visita a Rosa, este apreende neste espaço uma atmosfera de intimidade, sensualidade e luxo.
Na segunda vez, Carlos considera a casa acolhedora, que por sua vez lhe transmite várias sensações: o bom gosto e o requinte de algumas peças, onde se destacam o Manual de Interpretação de Sonhos e uma caixa de pó de arroz ornamentada como se fosse uma coccote. Estes são um presságio da dualidade de Maria, já que se ligam a Afrodite (deusa do amor e elemento perverso do ser feminino) e revelam o meio cultural distante do de Carlos, evidência a que este é sensível.
Outra conclusão a que podemos chegar da relação de Maria Eduarda com os espaços é que estes simbolizam os altos e baixos da sua vida. Tudo isto é revelado quando Maria conta todo o seu passado a Carlos.
Os vários espaços onde Maria Eduarda viveu durante a sua vida estão relacionados com os altos e baixos da sua vida.
Após ter saído de Portugal com a sua mãe, Maria Monforte, foi para um convento onde adquiriu hábitos saudáveis. Este espaço também está relacionado com a pureza, religião e paz, que, no entanto, muda quando vai viver com a sua mãe no Parque Monceaux. Esta era uma casa de jogo, mas sofisticada e luxuosa. Agora, em vez de hábitos saudáveis exemplares que verificava e praticava no convento, de manhã deparava-se com paletós de homens por cima dos sofás, ou seja, algo completamente diferente.
Depois foram viver para o terceiro andar de Chaussée-d’Antin, outra casa de jogos, inferior à anterior. É aqui que conhecem Mc Gren, por que Maria Eduarda se apaixona, vai viver momentos de felicidade com ele num Cottage e tem uma filha.
Infelizmente, este morreu na guerra, e como nunca se casaram, Maria Eduarda, sua filha e sua mãe ficam na miséria numa casa no bairro de Soho em Londres. Viveram assim até encontrarem Castro Gomes, com quem voltaram para Portugal.
“Enfim a mamã metera-a num convento ao pé de Tours.”
“A casa da mamã, no Parque Monceaux, era na realidade uma casa de jogo - mas recoberta de um luxo sério e fino. (…) A pobre mamã caíra sob o jugo de um Mr. de Trevernnes, homem perigoso pela sua sedução pessoal e por uma desoladora falta de honra e de senso. A casa descaiu rapidamente numa boémia mal dourada e ruidosa. Quando ela madrugava, com os seus hábitos saudáveis do convento, encontrava paletós de homens por cima dos sofás: no mármore das consoles restavam pontas de charuto, entre nódoas de champanhe; e nalgum quarto mais retirado ainda tinha o dinheiro de um bacará talhado à claridade do sol”.
“Mudaram então para um terceiro andar da Chaussée-d’Antin. Aí começou a aparecer uma gente desconhecida e suspeita”.
“Mas quem veio foi Mac Gren.
E partira com ele, sem precipitação, como sua esposa, levando todas as suas malas”.
“Alugaram então, no bairro pobre de Soho, três quartos mal mobilados. Era o lodging de Londres em toda a sua suja, solitária tristeza; uma criadita única, enfarruscada como um trapo; alguns carvões húmidos fumegando mal na chaminé; e para jantar um pouco de carneiro frio e cerveja da esquina”.
Os Maias, cap. XV