ROSSIO (Lisboa)

É em plena praça do Rossio, num primeiro andar de esquina, que se localiza o luxuoso consultório de Carlos.


– E o consultório, meu senhor, não é aqui, nem acolá; é no Rossio, ali em pleno Rossio! [...]”,
 Os Maias, cap. IV, pg. 98

"Um consultório gratuito, no Rossio, o consultório do Dr. Maia, «do seu Maia» reluziu-lhe logo vagamente como um elemento de influência. E tanto se agitou, que daí a dois dias tinha lá alugado um primeiro andar de esquina."

"Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de banquetas de marroquim, devia estacionar, à francesa, um criado de libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papel verde de ramagens prateadas, as plantas em vasos de Rouen, quadros de muita cor, e ricas poltronas cercando a jardineira coberta de colecções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns de actrizes semi-nuas; para tirar inteiramente o ar triste de consultório até um piano mostrava o seu teclado branco.
O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero, todo em veludo verde-negro, com estantes de pau preto. Alguns amigos que começavam a cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneo e agora vizinho do Ramalhete, o Cruges, o marquês de Souzelas, com quem percorrera a Itália - vieram ver estas maravilhas. O Cruges correu uma escala no piano e achou-o abominável; Taveira absorveu-se nas fotografias de actrizes; e a única aprovação franca veio do marquês, que depois de contemplar o divã do gabinete, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo, experimentou-lhe a doçura das molas e disse, piscando o olho a Carlos:
- A calhar.
Não pareciam acreditar nestes preparativos. E todavia eram sinceros. Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais; quando viu porem o seu nome em letras grossas, entre o de uma engomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hospedes, - encarregou Vilaça de retirar o anúncio." - Os Maias, cap. IV

No final da ação, o consultório deu lugar ao pequeno ateliê de modista.

"Era o consultório, o antigo consultório de Carlos - onde agora, pela tabuleta, parecia existir um pequeno atelier de modista. Então bruscamente os dois amigos recaíram nas recordações do passado. Que estúpidas horas Carlos ali arrastara, com a Revista dos Dois Mundos, na espera vã dos doentes, cheio ainda de fé nas alegrias do trabalho!... E a manhã em que o Ega lá aparecera com a sua esplêndida peliça, preparando-se para transformar, num só inverno, todo o velho e rotineiro Portugal!

- Em que tudo ficou!

- Em que tudo ficou! Mas rimos bastante!" - Os Maias, cap. XVIII


Juntamente com o laboratório, o consultório simboliza o diletantismo de Carlos e da sua geração.

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